quarta-feira, 28 de julho de 2010

detalhes

Um zilhão de pequenas coisas que nos encantam.
Um olhar, um sorriso, o jeito que mexe no cabelo,
uma covinha, um punhadinho de sardinhas,
uma pinta, um corte, uma cicatriz...
É cada uma dessas diferenças que faz com que cada pessoa
seja única.

É como se aquele pequeno complemento acabasse por representar a pessoa inteira.
Eu não consigo imaginar uma pessoa de covinhas, de repente ficando sem elas.
E sardinhas? Como ficaria se fossem todas apagadas?

É praticamente a identidade da pessoa,
o registro de autenticidade de cada um.

E foi por causa desses detalhes que me peguei pensando em você...
Seus detalhes.

terça-feira, 27 de julho de 2010

filme de terror

Minha aula termina quase onze da noite.
E é sempre a última turma a sair do prédio.
Eu gravo todas as aulas em um gravador daquele tipo igual de repórteres.
E como sou um cara gente boa, ao final da aula,
eu passo pro meu laptop, e depois vou passando
para cada pen-drive dos meus colegas.
Mas depois de passar a gravação para todo mundo,
eu ainda tenho que desligar meu laptop,
enrolar o cabo que estava ligado na tomada,
colocar o laptop dentro de sua capa,
colocar dentro da mochila,
fechar a mochila
e sair da sala.
Sabe aquele filme de terror, que sempre fica alguém para trás?
É assim que me sinto.
Todo mundo sai e eu fico sozinho.

Será que vão apagar as luzes?
Será que vou ficar trancado aqui dentro?
Será que alguém percebeu que eu ainda estou aqui dentro?
Será que o assassino louco da biblioteca vai aparecer agora?

Só quem já passou por isso entende como a mente é um bicho indomável,
e pensa tanta merda quanto pode!

Antes eu achava que era praticamente impossível um cenário assim ser formado:

- Como assim todo mundo saiu e só ficou essa personagem sozinha?
- Por que ninguém esperou pra saírem juntos?
- Por que essa pessoa andando em Nova Iorque vai cortar caminho
por esses becos que saem até vapor das tampas do meio da rua?

Mas realmente acontece.
Eu sou prova disso.
Eu fico sozinho, não encontro nem a pessoa responsável que vai fechar o prédio, no máximo escuto algumas vozes ao longe dos últimos que saíram antes de mim.
Mas como essas oportunidades meio surreais se formam?

É... são perguntas da humanidade que ninguém conseguirá responder,
mas que acontece, acontece.

Ainda bem que pelo menos não estou trocando de roupa no vestiário
ou nadando a noite numa piscina olímpica!

eu

Mais um dia.
Eu estou aqui.
E você? Por que não está aqui comigo?
Por que tenho a impressão de não estar fazendo parte do cenário?
Parece tudo alegre a minha volta;
escuto os passarinhos,
uma mulher ao longe cantando,
crianças rindo,
mas não eu.
Não estou cantando, não estou rindo, não estou achando o dia lindo.
Fica cinza sem você aqui.
Mais um dia cinza sem você.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

quero

Ultimamente é a palavra que mais surge na minha mente.
Quero praia, quero pintar meu carro, quero consertar meu ipod,
quero comer coxinha de frango com molho de pimenta,
quero tomar um chá verde, quero ver um bom filme,
quero... quero... quero!

E depois? Quando eu conquistar tudo isso?
Vou continuar querendo?
Claro que sim! Sempre!

Mas aí as coisas mudam...

Esse verbo "querer" me deixa desnorteado...
Porque essas primeiras coisas são possíveis, imediatas e rápidas.
Se eu quiser eu consigo.
Mas e os outros quereres?
Quero ser um bom pai,
quero que meus pais tenham sempre saúde,
quero continuar sempre amigo dos meus irmãos,
quero sempre ter contato com meus melhores amigos...
Mas esse querer é diferente,
porque não depende só de mim para que isso aconteça.
É um querer bilateral, que independe só das minhas vontades.
Posso até não ser responsável para que tudo isso aconteça como eu quero,
mas vou continuar sempre querendo,
porque eu quero.

seus olhos

- Eu volto logo.
- Mas por que você tem que ir?
Nessa hora, olhando seus olhos cheios d'água, me peguei raciocinando se realmente eu tinha que ir.
Eu tinha que ir.
Não queria, mas deveria.
Ela ficava mais linda ainda com aquela carinha triste.
Despedida nunca é fácil.
Como o tempo passou voando...
Uma história que parecia de uma vida inteira em apenas metade de um verão.
- Vai me escrever?
- Sempre.
- Vai lembrar de mim?
- Todos os dias.
Nesse minuto a voz no auto-falante avisou que estava na hora do meu embarque.
Pessoas se despedindo, malas grandes e pequenas, música ambiente novamente no auto-falante...
Como eu queria que aquele momento congelasse, que não fosse necessária minha ida, que a gente continuasse com mãos nas mãos e olhos nos olhos...
Meus braços a envolveram sem querer mais soltar...
Soltei. Olhei. Beijei. Dissemos mais algumas palavras. Me virei e me dirigi ao embarque.
Olhei para trás e lá estava sua imagem. Linda como nunca vou esquecer.Me soprou um beijo. Peguei no ar e colei no meu peito enquanto continuava me afastando.
No meio do mar de gentes não a via mais.
Mas sabia que veria aqueles olhos de novo. No próximo verão.