terça-feira, 31 de agosto de 2010

linda flor

O cara chegou.
Carrancudo.
Falou com ninguém.
Tinha cara de quem queria arrumar confusão.
Sentou numa cadeira de frente pra rua, na calçada mesmo.
A garrafa de cerveja suando, e o copo com metade de espuma na sua mão.
A rua estava vazia. Já passava das 11 da noite.
Tinha uma televisão ligada alta com algum filme de bang bang no prédio em frente.
Deveria ser no terceiro andar. Talvez no quarto andar. Foda-se. Qual diferença?
Nem essa cerveja melhorava o ânimo.
Quando foi colocar a garrafa no chão novamente reparou uma florzinha saindo do espaço apertado entre a calçada e a parede do bar.
Era uma flor solitária. Pétalas bem pequenas arredondadas, como se fosse uma margarida. Mas era bem menor e vermelha.
Ele se aproximou e admirou todos os seus detalhes.
Tinha duas folhas no seu caule, como aqueles desenhos de criança que aprendemos a fazer no nosso primeiro caderno.
O caule e as folhas bem verdes.
Era de uma cor quase inacreditável.
Ficava imaginando como uma florzinha linda e delicada daquela tinha conseguido crescer num ambiente daquele.
Um bairro imundo. Frequentado por bêbados, mendigos e prostitutas.
Lixo se acumulava em todos os cantos... Parecia que a prefeitura e o próprio Deus tinha largado aquele lugar ao abandono.
Enquanto ficava com essas idéias como um redemoinho dentro de sua cabeça... Sentiu pena da flor.
Era linda demais pra merecer aquele ambiente.
Erá fétido demais pra ela, era impuro! Essa era a palavra que ele procurava. Impuro.
Aquela flor não fazia parte daquele contexto.
Parou de pensar e ficou só olhando. Olhar vazio.
Levantou. Devolveu a cerveja pro balcão. Pagou sua conta.
Saiu do bar. Olhou novamente a flor.
Agachou e chegou bem perto. E sem aviso nenhum, arrancou-a em um único puxão e a jogou longe do outro lado da rua.
Ele não poderia deixar que ela crescesse naquele mundo que não era dela.

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